Contos

O delírio

De repente quebra-se o silêncio, alguém bate desesperadamente à porta, pede socorro, o medo se instala, o que faço? Abro a porta ou não? Será que está fugindo de alguém, está passando mal? A angustia toma conta de tudo.

O que fazer?

E ai surgi o silêncio novamente, mas o medo é tanto que não consigo abrir a porta. As horas passam, o silêncio torna-se insuportável, a cabeça começa a doer, o coração dispara, a angustia aumenta.

Mas a curiosidade é muito grande! Com a mão tremula abro a porta. O que vejo é aterrorizador. Uma mulher caída ao pé da escada toda ensanguentada.

O que teria acontecido?! Pois não ouvi barulho e nem um grito de terror. Alguém a teria matado ou se ferido ao cair da escada?!…

A questão é que estava morta!

Cheguei ao pé da escada e ao olhar ao redor, mais corpos caídos do mesmo jeito. O medo apoderou-se de mim, o mistério maior que o medo. Resolvi andar para ver se descobria alguma coisa, mas nada, só corpos e mais corpos. Tive a impressão que estava só no mundo. A escuridão tornava-se cada vez maior.

Seres estranhos estariam invadindo a Terra? Uma epidemia? O quê?

Tudo era mistério!

Resolvi voltar para casa e esperar amanhecer, mas por mais que andasse, não conseguia chegar, não achava mais a minha casa, fiquei perdido e confuso.

O que aconteceu?

Não conseguia ver as horas, a escuridão tornou-se mais intensa. Estaria enlouquecendo ou tudo era real?!…

Até que de repente vi uma luz bem distante. A luz chegou bem próximo e tudo clareou. Quando olhei ao redor não havia mais pessoas, nem casas, tudo era vazio, um deserto. Quando olhei para mim, eu era só uma sombra, não podia me toucar, pois estava… morto?!…

E agora, onde estou, o que aconteceu?

Na manhã seguinte entrei na cozinha e tomei meu café, como era de costume. Ai comecei a lembrar, como poderia estar morto, se estava ali a tomar meu café? Acho que enlouqueci. Tudo não passou de um pesadelo.

Será?!…

Esse mistério continua a me atormentar, se continuo a minha vida. O sangue continua ao pé da escada. O que realmente aconteceu? Estou vivo? Só saberei quando sair de casa novamente, pois o medo ainda toma conta de mim.

O telefone toca, vou atender. Quem será?

-Oi! Filho! Há dois dias tento falar com você e não consigo. O que houve? Você está bem?

Quase não consigo responder. Para mim é como se meses haviam passado.

-Oi! Mãe! Está tudo bem, acho que não andei ouvindo o telefone.

Mas como poderia estar falando com minha mãe se ela já morreu há mais de dez anos?!…

Fico intrigado e o mistério continua…

O que estará acontecendo na vida de George? Será fruto de sua imaginação ou será real? Estará enlouquecendo? Ou a vida está lhe pregando uma peça?! Onde estará George nesse momento? Em casa, no hospício, no além? Onde? Será que ele irá descobrir, enfim, o que se passa?


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Foto de Ángel Rubio no Pexels