Astronomia

Exovida: as (im)possibilidades da existência de vida

O aparente tamanho e idade do Universo sugerem que muitas civilizações extraterrestres tecnologicamente deveriam existir. Entretanto, está hipótese parece inconsistente com a falta de evidências observacionais para suportá-la” – Paradoxo de Fermi

Em 1990, a pedido do astrofísico Carl Sagan (1934-1996), quando a sonda Voyager 1 estava um pouco além da órbita de Netuno, fez uma foto do Planeta Terra. E tendo essa foto como inspiração, Sagan escreve um texto maravilhoso, o “Pálido Ponto Azul” (1994), onde “destaca a nossa responsabilidade de sermos mais amáveis uns com os outros”, e que devemos cuidar e proteger do nosso planeta, afinal, é “o único lar que conhecemos até hoje”.

Desta perspectiva, se não houvesse uma legenda indicando onde está o Planeta Terra, teríamos dificuldade para localizamos o nosso lar, o que dirá da detecção da existência de vida. Quando aumentamos essa escala, do Universo observável, ou somente da Via Láctea, a observação de vida fica praticamente impossível nesta “vasta arena cósmica”.

No século XX, com o surgimento de novas tecnologias e dos novos e potentes telescópios, e partindo do conceito que as leis da natureza são iguais em toda parte, conseguimos desenvolver novos métodos para observação de corpos celestes que estão a enormes distâncias de nós, estudando a sua composição química e outras características das estrelas, métodos esses que nos permitem estudar os diversos sinais que vêm do espaço.

Através do método de trânsito, analisamos os sinais de luz que chegam até nós, onde detectamos a composição do planeta, o seu tamanho e distância da estrela hospedeira, mas ainda não podemos ver o planeta em si, ou ainda, quaisquer características da superfície da estrela.

Com os radiotelescópios, também desenvolvemos métodos e podemos detectar, caso alguma outra civilização no Universo produza uma grande quantidade de sinais de rádio, como as que produzimos aqui, deduzir a possibilidade de vida, mas ainda assim, poderiam ser confundidas com as ondas de rádio produzidas naturalmente. Existem diversas fontes cósmicas de rádios que não possuem nenhuma relação com existência de vida inteligente. Pulsares e quasares, cinturões de radiação dos planetas e atmosferas exteriores de estrelas, ou mesmo os nossos vizinhos, Júpiter e Saturno, são exemplos dessas fontes.

Com a cosmoquímica, podemos, através da análise do espectro de luz (espectroscopia), deduzir a presença de vida em um exoplaneta (planetas fora do nosso Sistema Solar), independente de essa vida ter consciência, inteligência ou tecnologia, são as chamadas digitais químicas.

Como podemos observar, já desenvolvemos diversos métodos para a detecção de civilizações técnicas em exoplanetas, porém pode haver enormes impedimentos para a evolução de vida, ainda mais vida inteligente. Talvez a origem da vida não seja tão comum quanto sugerem os experimentos em laboratórios, pode ser que a evolução de formas de vida complexa seja improvável, ou pode ser que formas de vidas complexas evoluam com facilidade, mas que vida inteligente e formação de sociedades técnicas, precisem de um improvável conjunto de coincidências, assim como ocorreu aqui no Planeta Terra. Talvez seja inevitável o surgimento de civilizações, em incontáveis planetas da Via Láctea, ou do Universo, mas que sejam em geral instáveis e não tenham uma existência muito longa, a ponto de poderem ser detectadas ou detectarem outras civilizações.

Além disso, temos outros fatores, como as enormes distâncias, o que torna a comunicação ou deslocamento extremamente difíceis. Por fim, os nossos parâmetros para a existência de vida, que são baseados na nossa própria existência, não seja suficiente ou a única forma, sendo que aqui na Terra, já observamos a existência de vida em condições extremas, em lugares onde não deveriam existir.

Apesar das incertezas e da real probabilidade de estarmos sozinhos, na Via Láctea ou mesmo no Universo, não podemos parar de procurar, pois penso como o personagem Ted Arroway, no filme Contato (1997), ao responder a pergunta da sua filha Ellie, sobre se ele acredita que existam pessoas em outros planetas: “I don’t know, Sparks, but I guess I’d say if it’s just us.. seems like an awful waste of space”.

Marcelo Daudt
Artigo apresentado no Curso de Introdução à Astronomia Amadora
São Paulo – SP – Brasil
Julho 2018

Referências

MARTINS, Roberto de Andrade. O universo : teorias sobre sua origem e evolução. 2. Ed. São Paulo : Editora Livraria da Física, 2012.

MATSUURA, Oscar T.; PICAZZIO, Enos. O sistema solar. In: Astronomia :  uma visão geral do universo. 2. Ed. São Paulo : Editora Universidade de São Paulo, 2003.

SAGAN, Carl. Cosmos. 1. Ed. São Paulo : Companhia das Letras, 2017.

TYSON, Neil Degrasse. Astrofísica para apressados. 1. Ed. São Paulo : Planeta, 2017.

WIKIPÉDIA. Paradoxo de Fermi. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Paradoxo_de_Fermi>. Acesso em: 02 jul. 2018.